Alguns sonetos

A luz que o cego vê




Na escuridão de um quarto fui gerado,
entre chamas de amor a me aquecer,
senti o coração acelerado
no ventre alegre por me receber.

Com o passar dos meses, nado e nado,
sem nada ver, sentir ou perceber.
Vou pra cima, pra baixo, lado a lado,
como peixe no aquário a enlouquecer.

Com o passar do tempo eu sinto o tato,
o calor e o som cheios de prazer,
expressos pelos seres que de fato

irão me conduzir no meu viver,
sem deixar-me esquecer de que sou nato
do amor que foi a luz do meu nascer.


Hélio S.M.Jr.
------------------------------------------------------------


Rosa


Vejo uma rosa e ela está molhada,
e sua cor vermelha, Deus pintou,
mas o choro da noite, a madrugada,
lavou-lhe a pele e a luz ressaltou.

Ela é bela e também é perfumada,
mas, permeada de espinhos perfurou,
a mão que lhe colheu desesperada
e que um dia por ela se encantou.

E agora vejo pétalas sem vida,
jogadas ao chão como despedida,
daquela paixão que não floresceu.

E a quem perguntar pela mão ferida,
denunciarei quem a deixou despida!
Num bem-me-quer e mal-me-quer, fui eu.

Hélio S.M.Jr
------------------------------------------------


O despertar de um poeta

Ao começar, escrevo sem certeza

sem destino e beleza ao caminhar,
não sabendo sou vítima, sou presa,
pois não vejo clareza no versar.

Ao leitor, o sentido dá leveza,
sacia a alma que teima em buscar,
um alimento que não está na mesa
e sim, atrás do verso a se ocultar.

Pra ver o pensamento, olho pra cima,
na sina de mesclá-lo ao sentimento,
para que a pena escreva certo a rima,

no texto, que decerto, é o advento,
do nascer de um poeta e a obra-prima,
no papel que já dança com o vento.

Hélio S.M.Jr
--------------------------------------------

Infância perdida

Por muito pouco um jovem assassina,

na sina de buscar a liderança,
de uma “boca de fumo” numa esquina,
onde não mais se vê a esperança.

Vejo o menino, também a menina,
sem o calor dos pais e sem herança,
é uma imagem que fere a retina,
é mostra de fraqueza, não pujança.

Alguns querem sair destes caminhos
mas há pedras de “crack” no percurso
que seduzem e matam os “anjinhos”.

Não há tenacidade, mas tem cola
prendendo as almas tristes que recurso
do mal que aflige os bancos da escola!

Hélio S.M.Jr
------------------------------------------------

Pobre rico e rico pobre

Nas mãos dos ricos, jóias enferrujam;
nas mãos do pobres, calos são adornos,
pois são mãos que trabalham e não se sujam
não são mãos que recebem os subornos.

São os humildes que têm e que usam
a modéstia e o amor, d’alma contornos.
E a união em seus lares se recusam
a multiplicar tantos abandonos.

Pobre, tua riqueza é bela e forte
e por pouco que tenhas e te sobre,
tua fortuna vai além da sorte.

Rico, que na avareza pena e sofre,
acorde para a vida, não pra morte,
pois teu peito está cheio, não o cofre.

Hélio S.M.Jr
---------------------------------------------------

Pescador

Na plenitude as plácidas marés,
as Nereidas e Ondinas te carregam.
Em teu coração não se vê revés
e não tem horizontes que te negam.

O mar reflete a imagem do que és
e os ventos ditam rumos que te levam.
O sol te queima a face, as mãos, os pés,
a noite tece sonhos que te cegam.

A escuridão se vai, vem a alegria,
a esperança navega em teu olhar
pra ancorar no peito, agonia

de poder, a família, abraçar
e lembrar, que na vida há sempre um dia
para viver, partir e retornar.

Hélio S.M.Jr
-----------------------------------------------



Quem te busca, benéfica senhora,
pede em oração, logo a própria cura,
e, como nunca foges, tens bravura,
costumas chegar sempre em boa hora.

Contigo o cego vê, o surdo apura;
o coxo anda e vai feliz embora;
o perdido se encontra e o mudo agora,
canta e encanta, é nova criatura.

Espantas os males desta vida, a morte,
consolas os que se dizem sem sorte,
indicas rumos, leva-nos ao bem.

E para que no inferno eu não retarda,
nasça como semente de mostarda,
mova as montanhas que esta vida tem.


Hélio S.M.Jr
----------------------------------------------
 Do sol à lua

O sol fornece luz com seus abraços
que envolvem todo o verde da “natura”.
Plantando n’alma, chamas de candura,
dando ao coração bronze, ao peito aço.

O coração só marcha num compasso,
embebido de mágica brandura,
e a passos lentos, a alma que é pura,
pega os raios de luz e tece laços.

Vem a noite, e o medo da negrura,
de um espaço, onde estrelas vêm e somem,
dá forma às nuvens com caricatura.

E no céu, olhem pro “Divino Homem”,
palpando a lua fria, também dura.
Na terra, namorados que a consomem.


Hélio S.M.Jr
---------------------------------------------